terça-feira, 28 de setembro de 2010

AMIGOS, PARCEIROS, ALIADOS?


O estranho, o bizarro, o inesperado aconteceu: a Câmara Municipal enterrou de vez (por enquanto...) o que caminhava para ser uma grande dor de cabeça especialmente nos que militam a causa ambiental, não aprovando a cessão ao governo do estado de espaço para a instalação de um Centro de Convenções na área destinada a um futuro -e cada dia mais improvável- Paço Municipal, na zona sul.
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A história toda beira a ficção. Para começar, é errada a utilização do termo "Paço Municipal" para um conjunto de edifícios públicos (Executivo, Legislativo ou Judiciário, entre outros), una vez que a palavra paço é uma contração de palácio, aplicando-se, portanto, a um único prédio. Esse o menor problema, mera filigrana.
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Eis que veio a reunião ordinária da Câmara, de 21 de setembro, quando, em segunda votação, o processado 171/2010 (que número!) , projeto de lei que autorizava a doação de terreno de domínio público à Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, para implantação de Centro de Convenções, acabou rejeitado, apesar dos seis votos favoráveis e cinco contrários, diante da necessidade legal de oito votos positivos. Ganhou mas não levou. Entre os contrários, a surpresa: o presidente da Câmara, aliado e correligionário do chefe do executivo, que não só votou contra como ainda explicou que seu voto não mudaria o resultado -se fosse o contrário teria votado favoravelmente.
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O gesto aparentemente sem maiores consequências do vereador-presidente está acionando a luz de alerta para o que poderá acontecer em Poços, encerradas as eleições: a eventual debandada da base aliada -que apoiou e elegeu o atual prefeito- descontente com a queda de popularidade do chefe do executivo, em função de algumas decisões cujas repercussões levaram a cidade a, por exemplo, figurar no CQC, programa jornalístico-humorístico veiculado nacionalmente: a implantação do Siga mostrou prefeito e concessionário abandonados aos leões, muito longe dos deputados, vereadores e outros medalhões da política e da elite local que, dias antes, davam as caras aos holofotes e flashes nas inaugurações dos mini-terminais.
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O resultado das urnas em três de outubro pode sacramentar essa teoria, caso a base aliada não consiga reeleger seus representantes nos legislativos estadual e federal. Se acontecer esse desastre, o culpado está definido, contribuindo para elevar o tom da discussão se candidatos da oposição forem eleitos com expressiva votação do município.
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Esse eventual divórcio, inicialmente um problema, poderia guinar favoravelmente ao atual prefeito e, claro, à cidade. Para começar, uma oportunidade de, entrando na segunda metade do mandato, montar um secretariado diferente, sem apadrinhamentos que não os do próprio chefe do executivo.
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Não se pode ser ingênuo a ponto de acreditar na possibilidade de um grupo exclusivamente técnico no primeiro escalão, mas desamarrado de parte da dezena de legendas  que o ajudaram a chegar ao posto máximo municipal, o prefeito teria chances de bater asas mais vigorosamente, livrando-se se de indesejáveis figuras que ocupam postos de absoluta relevância, inclusive no futuro da cidade, sem a devida competência técnica e/ou política.
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A mudança nesse tabuleiro interessa também à fila que se forma na escada de acesso ao primeiro andar da Francisco Salles, todos eles com calendários de 2012 em mãos. Além da disputa pela reeleição, nomes como o atual e o próximo presidente da Câmara, vereadores de muitos mandatos ou neófitos abençoados pela elite política, secretários de muitas gestões ou novatos, todos "conscientes dos excepcionais serviços prestados à cidade" e o "respaldo que recebem da população" pululam no notíciário e, principalmente, nos bastidores partidários. Buscam vida própria e um lugar ao sol, incluindo alguns membros da dita oposição.
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Pode-se criticar muito desses dois anos de gestão municipal, mas é preciso ver a coragem do prefeito ao tocar em pontos que ficaram parados no tempo, e exemplos como Siga, DME ou Estatuto mostram isso. Se darão certo é um ponto -importa é quem assumiu o risco. Fora do ninho, caberá ao líder montar uma estratégia para recuperar os tapinhas nas costas, o trânsito livre nas praças do centro, as fotos com crianças no colo, enfim recuperar aquele clima de campanha boa de coração e o apreço incondicional pelo menos dos 47 mil eleitores que o guindaram ao mais importante gabinete municipal.
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E, também, continuar governando sem a ilusória "confortável maioria" que aparentava ter no legislativo. Dura tarefa. Do seu sucesso Poços de Caldas depende, e muito.
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4 comentários:

  1. Pelo amor de Deus! Tenha misericórdia!

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  2. Caruso, impressiona a forma como você enxerga a situação política da cidade e consegue explicar com tamanha clareza.
    Pena que não há um veículo de comunicação na cidade com essa percepção e liberdade, nem com cacife para contratá-lo, de modo que pudéssemos ter esse tipo de conteúdo diariamente.
    Parabéns, um abraço e, tal como você, torço para que nossa Poços e seu governante sigam em frente!

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  3. Caruso,
    parabéns pelo texto, com este seu cacife, você poderia explicar ao pessoal do Jornal de Poços que beira ao ridículo a tentativa de elevar a aprovação do prefeito artificialmente, explique que não é com comentários de coluna e análises deturpadas que isto vai ocorrer, é com acerto na administração, respeito ao plano diretor e ao mei ambiente, declarações verdadeiras é isto que faz o grande administrador ser reconhecido.

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  4. Caro Rubens, a pouco dias das eleições, um sentimento de descrença assola minha convicção.
    A realidade que enfrentamos com a política local, a falta de compromisso, de transparência e sensibilidade, me faz rlefetir sobre uma nova proposta política que ainda não foi apresentada.

    Será que na sociedade não existem pessoas de bem capazes de formar um novo núcleo político?

    Um núcleo político formado por aqueles que não herdaram o título, mas sim porque conquistaram pelo mérito e ter feito algo pelo bem coletivo?

    Ao contrário da maioria das pessoas que passam a suas vidas ignorando nossas possibilidades futuras, procuro sempre pensar que podemos ir além.

    Porém no momento pesando e medindo não consigo me decidir, isso é muito triste.

    Abraço!

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